Miguel, natural da Venezuela, empreendedor em Boa Vista
Gastronomia
A chegada de Miguel ao Brasil foi marcada por dificuldades. Natural da Venezuela e formado em Contabilidade, ele já não encontrava emprego na área em seu país natal no ano de 2015. Diante da crise econômica ele, que trabalhava em uma farmácia, resolveu vir para Boa Vista em busca de melhores condições de vida. Ao chegar, Miguel dividiu um quarto com mais dois amigos e trabalhou vendendo suco de laranja nas ruas. “Hoje em dia eu sou risada, mas foi ruim... A gente aprende”, relembra ele. Um dos piores momentos foi quando Miguel chegou a levar calotes de alguns empregadores, por trabalhar sem carteira assinada. “Como eu não tinha documentos, muitas vezes simplesmente não me pagavam pelos serviços. Mas eu não brigava pois, se brigasse, perderia a comida”, recorda, mencionando o almoço que ganhava no local de trabalho.
A ideia de abrir seu próprio negócio veio durante uma breve temporada na Argentina, quando trabalhou em um restaurante de comida venezuelana. “Sempre sonhei em ter meu próprio empreendimento, e aprendi muito por lá”, conta ele, que voltou para Boa Vista cheio de (ótimas) ideias. Com a chegada da pandemia do Covid-19 Miguel, que até meados de 2020 trabalhava em um mercado, viu na necessidade de ficar em casa uma oportunidade para economizar o dinheiro que faltava para abrir o empreendimento. “Para mim não existe coisa ruim. As coisas acontecem e, mesmo não gostando delas, é necessário ver o que você vai aprender”, conta ele, sobre sua forma de encarar a pandemia e os outros desafios que encontra ao longo do caminho.
Em novembro de 2020, Miguel lançou a Ay Que Rico, um foodtruck de arepas e pasteis que fica no estacionamento do Estádio Canarinho. Além de mandar construir o veículo, ele trouxe parte de sua família da Venezuela para trabalhar no empreendimento. A ideia, conta ele, era abrir seu próprio negócio e também viabilizar uma ajuda mais consistente para a família que ficou no país natal. Até então, Miguel era o único da família vivendo no exterior e temia não dar conta de ajudar a todos. Apesar de ter inaugurado a Ay Que Rico em um momento de crise, a receptividade do público brasileiro surpreendeu o empresário. “Eu tive um pouco de receio, porque vendo um produto novo e típico do meu país. Está dando muito certo, e a maioria dos meus clientes brasileiros prefere as arepas. O tempero é diferente, e isso também agrada”, conta ele, que incluiu os pasteis no menu pensando em agradar o público local.
O empreendimento segue todas os protocolos para evitar a propagação do Covid-19 e, buscando contemplar aos clientes que preferem ficar em casa ou que ainda não podem deixar o isolamento, Miguel oferece também o serviço de delivery e de encomendas por Whatsapp. Para um futuro próximo, o empresário sonha em alugar um ponto fixo, e seguir apresentando um pouco das delícias da culinária venezuelana para o público brasileiro. “Estou muito feliz, pois estou trazendo coisas diferentes”.
(Texto produzido em Fevereiro de 2021)